segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Q

Quando lhe pedi para trocar a minha cerveja quente por uma fresca, ele disse que não podia porque o patrão não estava.
Tinha uma cabeça enorme, completamente desproporcional ao corpo, careca na parte de cima com cabelos castanho-acizentado do lado. Tinha uma ferida nos lábios, do hábito de os morder sempre no mesmo sítio, suponho. Não parava de revirar os olhos os olhos e e as suas mãos calejadas não paravam de limpar o balcão de alimínio com um pano fedorento. A Farda que usava, de um asul muito gasto pelo som dava-lhe um ar ainda mais enjoado...enjoavito! E a ferida no lábio borbulhava de pús e sangue e calor e nojo.
"Não posso, eu não sou patrão!" E o pano saltava do balcão para os frascos de chocolates e de lá para o balcão, sempre a limpar. Os olhos não o seguiam, tinham vida própria.
Eu estava de pé, com duas cervejas na mão e a língua inchada de tanta sede. O gajo continuou lá, com a cabeça grande pendendo para um dos lados, na sua dança infinita com o pano e os olhos.
Eu fiquei com duas cervejas na mão e muit sede.


Catarina 14/10/2008

0 mangueiradas na patareca: